Memória

Memória

"Toda a história começa com uma memória"

Fascinante e complexa, a memória é como um labirinto onde, em determinada fase da vida, podemos perder-nos irremediavelmente. Conhecer fatores de risco que danificam as estruturas do cérebro, os sinais de alerta e como agir para tornar a memória mais resistente ao envelhecimento é uma ajuda preciosa.

Como construímos a memória?

As informações que recebemos durante o dia são “arrumadas” à noite, enquanto dormimos.

Durante a primeira fase do sono, estamos a segmentar o dia aos bocadinhos e a procurar, nas memórias, ligação a esses acontecimentos para perceber onde vão ficar fixados. Esta é a fase dos movimentos rápidos dos olhos, a fase de ir buscar as gavetas da memória.

Depois, a organização da memória é feita por camadas. À medida que vamos tendo novas experiências, somamo-las às antigas, estabelecendo associações com o passado.

De tudo o que nos acontece durante o dia, os eventos negativos são os que ficam mais bem registados. São os acontecimentos negativos que põem em risco a nossa sobrevivência, por isso, tendemos a registar mais as experiências negativas do que as positivas como um processo natural de defesa.

Tipo de memória:

Memória implícita ou não declarativa é aquela pela qual nunca esquecemos como se anda de bicicleta.

Memória explícita ou declarativa é a que nos permite guardar informações a curto e a longo prazo.

A memória de curto prazo representa a memória de informação retida para repetição ou reprodução imediata sem qualquer reforço, como lembrar o que vai buscar ao frigorífico ou reproduzir um novo número de telefone.

A memória de longo prazo inclui a memória autobiográfica ou episódica, que reflete o arquivamento dos eventos da vida e o conhecimento que temos do mundo que nos rodeia.

Como funciona a memória ao longo da vida?

Ao longo da vida, o reservatório da memória vai tendo cada vez menos espaço, por isso, a capacidade de memorização de novas informações vai diminuindo.

Infância O cérebro é capaz de receber muita informação. Aquilo que aprendemos mais cedo na vida está mais consolidado do que aquilo que aprendemos mais tarde.

Idade adulta O sistema começa a perceber que a repetição já não é necessária. Já possui muita informação. «Já não é preciso, por exemplo, estar a aprender palavras novas e, por isso, torna-se mais difícil decorar coisas novas.

Terceira idade O cérebro passa a trabalhar apenas com a informação que já tem, o que explica a tendência de as pessoas mais velhas acharem que sabem tudo, terem pequenos esquecimentos e sentirem dificuldade em decorar novas informações, como o nome de uma pessoa que acabam de conhecer.

Para perceber se a perda de memória é ou não indiciadora de doença, aos médicos interessa os conceitos de memória de curto e longo prazo. As memórias de curto prazo são as que estão mais sujeitas a desaparecer. As mais antigas, por estarem mais consolidadas, aguentam mais tempo, porque se encontram em zonas mais protegidas do cérebro.

Preservação da memória

Quando o reservatório de experiência falha, o dia a dia torna-se bastante complicado. Se perdermos a memória, temos muito mais trabalho para viver, pois não estamos a usar a informação que temos cá dentro. Temos de reagir de forma nova a cada situação. Ficamos perplexos ao analisar a informação e o processo de decisão é mais complicado, porque não temos os automatismos de experiência.

Proteção da memória

As células do cérebro, os neurónios, são extremamente sensíveis e são afetadas pelo nosso estilo de vida, especialmente por hábitos que prejudicam a microcirculação sanguínea.

A adoção de hábitos saudáveis hoje pode em parte determinar a qualidade da memória amanhã:

Alimentação

Ter uma alimentação variada e comer alimentos diferentes todos os dias é, de acordo especialistas em neurociências, fundamental para a memória. É importante ingerir alimentos frescos como legumes, vegetais, peixe, azeite e leguminosas, que exercem uma função antioxidante. Ao ajudarem a produzir o bom colesterol, que limpa as artérias, combatem o envelhecimento precoce do cérebro, assim como as doenças associadas, seja diabetes, hipertensão e problemas cardiovasculares.

Exercício

Exercício adequado, por exemplo uma caminhada, no mínimo, de meia hora de manhã e à tarde faz bem à memória, ao aumentar a microcirculação sanguínea

Socialização

Conversar com outras pessoas, ter uma vida social ativa, além de ler, ouvir música e ver filmes, ajuda a “dar vida” ao cérebro,

Aprender coisas novas

O objetivo é aumentar o volume de conhecimento, aquilo a que os especialistas chamam reserva cognitiva. Ter mais volume cultural protege as pessoas da demência, porque as zonas que são afetadas neste tipo de patologias são aquelas que não são tão usadas pelas pessoas com mais conhecimento.

Importante:

A memória é semelhante ao comportamento do disco rígido do computador. Se este estiver demasiado carregado com informação, começa a funcionar de forma mais lenta e pode mesmo bloquear. O apagar das memórias supérfluas e o “zipar” de memórias menos utilizadas liberta espaço e o computador volta à sua capacidade habitual. Contudo, esta manobra não é possível no ser humano. Por isso, seguir um estilo de vida saudável pode dar algum tempo no processo de declínio inevitável, em função da idade e dos fatores de risco a que estamos sujeitos.

Por Florie