Se eu não gostar de mim quem gostará?

Será assim?

"Se eu não gostar de mim quem gostará?" já foi o slogan de uma marca mas transformou-se no slogan de muita gente. Regra geral, as mesmas pessoas que se definem como "muito bem resolvidas". E que acham que o ponto de partida para nos levarem a sério, para gostarem de nós e para nos amarem passa por darmos "o pontapé de saída" e começarmos, nós próprios, por gostar de nós.

A ideia, na base, pode até ser razoável. Afinal, se, ao olharmos um espelho, sentirmos estranheza em relação à pessoa em que nos tornámos, será muito difícil que gostem de nós. Porque ao vivermos, mesmo que o façamos "secretamente", vergados ou "encolhidos" diante de tudo aquilo que nos dava "coluna vertebral", é difícil que haja quem faça de "fada-madrinha" e transforme tudo aquilo que temos de "abóbora" em pormenores dignos de princesa. Seja como for, este "se eu não gostar de mim" passa mais por gostarmos de nós "por dentro" do que possa parecer. Dar-mo-nos o respeito que precisamos de merecer de nós mesmos para exigirmos ser respeitados. No limite, admirarmos as conquistas a que chegámos com o auxílio de alguém. E termos orgulho nisso.

Mas se o orgulho representa uma vitória sobre nós próprios e as nossas dificuldades, a vaidade já é uma espécie de grito de vitória que se faz sobre os outros. E é aqui que o "Se eu não gostar de mim quem é que gosta?" se torna escorregadio. Afinal, não é por nos "vendermos" com várias "camadas" de auto-estima que passamos a respeitar aquilo que temos de melhor. Pelo contrário. Receio, aliás, que isso funcione como uma espécie de "botox". Uma máscara com que nos iludimos a nós próprios. Com a qual imaginamos que os outros só alcançam a imagem que construímos e lhes queremos dar mas nunca aquilo que temos de mais verdadeiro. O que faz com que, muitas vezes, haja quem confunda a máscara que criou com a face que perdeu e fique num labirinto tremendo. E, assim, a precisar, em todos os momentos, que os outros validem aquilo que essa pessoa imagina ter de "genial" mas, quase nunca, as fragilidades que, tornadas transparentes, as tornam única e mais bonita.

É por isso que as pessoas que assumem que “Se eu não gostar de mim quem gostará?” são pessoas muito mais sozinhas do que desejariam. Sentem-se adoradas, porventura, por alguns, mas desconhecidas e mal-amadas pela maioria dos outros. E, por vezes, por si próprias. Porque, na verdade, a forma como “usam” os outros talvez não as leve no sentido de os viverem como os espelhos que as devolvam ao melhor de si mas como se eles fossem o “espelho mágico” que confirma e corrobora o quanto gostam de si. Mesmo quando não se reconhecem naquilo que são...

Feitas as contas, talvez a fórmula correcta não deva ser “Se eu não gostar de mim quem gosta?” Mas “Amo se me sentir amado”.

Quem ama gosta. Mas quem só gosta nunca ama.

Professor Eduardo Sá


https://www.eduardosa.com/blog/o-amor-é-uma-chatice/se-eu-não-gostar-de-mim-quem-gostará/